Durante os ciclos olímpicos de Sidney 2000 e Atenas 2004, o Brasil contou com grandes nomes do triathlon representando o país nas competições internacionais, sendo Paulo Miyashiro, Juraci Moreira e Leandro Macedo entre os homens, além de Carla Moreno, Mariana Ohata e Sandra Soldan entre as mulheres. Já em Pequim 2008 esse número foi reduzido, já que no feminino apenas Mariana esteve presente, enquanto entre os homens o então veterano Juraci competiu ao lado do jovem Reinaldo Colucci. Esse cenário indica que a renovação no triathlon brasileiro caminha a passos curtos e que num futuro próximo essa será menos uma modalidade com representantes canarinhos.
Antônio Carlos Moreira do Amaral, o Cali, treinador da delegação brasileira na Olimpíada de Sidney e no Pan de 2007, comenta o porquê desta realidade. “O esporte no Brasil é muito voltado para o coletivo, o individual necessita de uma cultura diferenciada”. Segundo ele, o triathlon exige muito do atleta e o Brasil ainda não enxerga o esporte como profissão, já que um atleta depois dos 17 anos deixa o esporte para se preparar para a universidade. “A partir daí acaba-se a ‘brincadeira’ para se trabalhar ou estudar”, completa Cali.Além disso, o treinador ressalta que as provas no Brasil são muito caras e que os principais campeonatos acontecem no norte do país, dificultando o acesso dos possíveis expoentes das regiões sul e sudeste. “Aqueles que têm recursos financeiros acabam parando, pois os pais não querem que ele viva do esporte, enquanto os que poderiam ter uma chance não entram para o esporte, pois é muito caro”. Para ele, a solução seria investir no lado social, com um projeto em longo prazo, que renderia frutos após 10 ou 15 anos.Exemplo - A falta de renovação ficou evidenciada na disputa do Mundialito de Fast Triathlon feminino este ano, prova em que o Brasil foi representado por Vanessa Gianini, Fernanda Bau e Pamela Oliveira, que obtiveram a terceira posição. Em anos anteriores, Carla Moreno, Mariana Ohata e Sandra Soldan oscilaram entre a conquista do título e um segundo lugar na concorrência com as estrangeiras. Para Cali, o número reduzido de atletas nas categorias de base resulta no baixo nível de competitividade. “Elas fizeram o que puderam no nível que têm hoje. São três atletas num horizonte muito pequeno, teríamos que ter umas 40 a 100 meninas na categoria juvenil em pé de igualdade, mas temos um número muito reduzido”. O treinador acredita que para surgirem grandes expoentes é necessário que haja uma gama de opções. “Do mínimo, estamos tirando muito pouco”.Nem tudo está perdido, porém, já que desta pequena amostra vez ou outra surgem alguns atletas com potencial, como a jovem Victória Remaili, que no último dia oito conquistou o primeiro lugar em sua categoria no Triathlon Internacional de Santos. Aos 14 anos, ela fechou sua primeira prova olímpica (1,5 quilômetros de natação; 40 de bike e 10 de corrida) com 2h30min40, uma diferença de menos de 30 minutos para a campeã geral Carla Moreno (2h02min36).“Ela tem uma cabeça muito boa para este tipo de prova e tem recurso para arcar com as despesas”, avalia Cali. “Temos que dar tempo ao tempo para ver se ela quer viver do esporte e esperar a reação da família quando ela tiver 16 a 17 anos”, acrescenta. “Ainda que ela tenha feito um tempo bom, eu preferiria que ela tivesse competindo com mais 20 a 30 meninas da mesma idade”. Ele lembra que na época em que a Carla começou a disputar provas, a Mariana e a Sandra também já estavam no alto rendimento e a competição entre elas fez com que elas se transformassem no “trio de ferro” do triathlon brasileiro. O tempo irá dizer se termos ou não novas revelações.
Por Alexandre Koda